O governo regional de Cartum confirmou nesta quarta-feira (26) que subiu para 46 o número de mortos no trágico acidente envolvendo uma aeronave militar do modelo Antonov, que caiu sobre uma área residencial nos arredores da capital sudanesa. Além das vítimas fatais, pelo menos 10 pessoas ficaram feridas, entre civis e militares.
A tragédia ocorreu na noite de terça-feira (25), logo após a decolagem da aeronave, que partiu de uma base aérea localizada em Wadi Seidna, uma das instalações militares mais estratégicas do exército do Sudão. O local, situado na região de Omdurman, a noroeste de Cartum, é conhecido por sua importância nas operações militares do país.
Segundo informações divulgadas oficialmente, o acidente teria sido causado por uma falha técnica durante o voo, fazendo com que o avião perdesse altitude rapidamente e se chocasse contra edificações próximas. Uma fonte militar, que falou sob condição de anonimato à agência AFP, confirmou que a tripulação tentou manobras para evitar o desastre, mas não conseguiu impedir a tragédia.
Explosão e caos no local do acidente
Testemunhas relataram ter ouvido uma forte explosão no momento do impacto. A queda do avião causou grandes danos estruturais nas proximidades e resultou em cortes de energia elétrica nos bairros vizinhos. Além dos escombros espalhados pela região, relatos indicam que o calor intenso gerado pelo incêndio comprometeu o trabalho das equipes de resgate nos primeiros momentos da operação.
Os serviços de emergência foram acionados imediatamente para prestar socorro às vítimas. Ambulâncias e equipes médicas deslocaram-se rapidamente ao local para tentar salvar os feridos, entre eles algumas crianças que estavam nas residências atingidas. Muitos foram encaminhados para hospitais próximos, onde seguem em tratamento.
Inicialmente, o Ministério da Saúde havia divulgado um balanço preliminar de 19 mortes, mas, à medida que as operações de resgate avançaram, o número foi atualizado para 46 óbitos confirmados.
Conflito no Sudão agrava cenário de destruição
O desastre aéreo acontece em um momento extremamente delicado para o Sudão, que enfrenta uma guerra devastadora desde abril de 2023. O país está imerso em um conflito entre o exército regular, liderado pelo general Abdel Fatah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), sob comando do general Mohamed Hamdan Daglo.
O embate entre os dois grupos militares já deixou milhares de mortos e milhões de deslocados internos, tornando o Sudão um dos epicentros das maiores crises humanitárias do mundo na atualidade. Estima-se que mais de 12 milhões de sudaneses tenham sido forçados a deixar suas casas, fugindo da violência que se espalha pelo território.
O controle da capital, Cartum, é um dos principais pontos de disputa entre os grupos, o que torna a cidade palco frequente de bombardeios, ataques aéreos e confrontos armados. O conflito destruiu boa parte da infraestrutura do país, comprometendo serviços essenciais como energia elétrica, abastecimento de água e atendimento médico.
A tragédia aérea e suas implicações
Embora a queda do Antonov tenha sido atribuída a uma falha técnica, especialistas avaliam que as condições precárias das aeronaves militares sudanesas podem ter sido um fator determinante no acidente. Devido às sanções econômicas e à instabilidade política, o país tem dificuldades em manter sua frota de aviões e helicópteros em condições adequadas de operação.
Além disso, o aumento dos combates no Sudão tem levado o exército a intensificar o uso de aeronaves em missões estratégicas, aumentando o risco de incidentes como este. A base aérea de Wadi Seidna, de onde partiu o avião acidentado, é frequentemente utilizada para operações militares contra as forças paramilitares das FAR, o que levanta especulações sobre o propósito da missão da aeronave no momento da tragédia.
A situação no Sudão continua alarmante, e a comunidade internacional segue acompanhando os desdobramentos da guerra civil que tem devastado o país. Enquanto isso, os sobreviventes do acidente tentam lidar com a dor da perda e os desafios de viver em um território assolado pelo conflito.