Servidora do setor público opta por destinar seu corpo à ciência após o seu falecimento: ‘Contribuição para o bem comum’. No estado do Paraná, ao longo de 14 anos, 64 corpos foram disponibilizados para fins de pesquisa, conforme informações da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). O procedimento de doação é supervisionado por um conselho de alocação; veja como proceder.
A funcionária pública Tânia Cardoso, residente em Curitiba, optou por oficializar junto à sua família o seu desejo de doar seu corpo para instituições de ensino e pesquisa após o seu falecimento, como uma maneira de contribuir para a ciência e os estudos médicos.
“Por que não colaborar com os avanços da medicina? É uma maneira de permitir que o corpo tenha um propósito útil. Trata-se de uma prestação de serviço para o bem público.”
No estado do Paraná, a prática de doação de corpos com finalidade de ensino e pesquisa é regulamentada por lei desde o ano de 2007, sem prejudicar cerimônias fúnebres, velórios ou doações de órgãos.
De acordo com informações da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), desde o ano de 2009, quando os registros de doações foram iniciados, 64 corpos foram cedidos no estado. O processo é gerenciado pelo Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres do Paraná (CEDC).
Gonçalo Cassins Moreira do Carmo, presidente do conselho de distribuição, destacou: “Atualmente, mais de 30 mil alunos dependem dessas doações para prosseguirem com seus estudos. Esse é um público de extrema importância. Além disso, quando possível, há encaminhamento para a Polícia Científica.”
Um total de 57 instituições de ensino superior no estado estão registradas para receber os corpos doados.
Embora os cursos de medicina utilizem manequins com componentes em resina e tecnologias 3D para simular todas as partes do corpo, os professores afirmam que nada substitui a experiência de utilizar um corpo real.
Segundo a professora Camila Marques, “Quando um estudante na área da saúde utiliza modelos em acrílico, ele não consegue observar as estruturas reais da mesma forma que em um corpo humano. Essa diferença é crucial, já que permite a visualização de outras estruturas presentes no corpo que muitas vezes não são visíveis em modelos.”
A professora de anatomia Yeda da Silva destaca que, quando os estudantes não têm acesso a corpos reais para estudo, a qualidade do ensino se torna limitada e superficial.
“Isso resulta em profissionais que passam por sua formação tocando apenas peças de resina. Quando eles se depararem com pacientes, não conseguirão realizar exames físicos de forma precisa, pois não terão conhecimento da consistência real. Da mesma forma, no ambiente cirúrgico, não terão uma compreensão realista das estruturas e órgãos envolvidos”, explica a professora.
Segundo informações da Seti, mesmo após formalizar a doação, no momento do falecimento, a família pode realizar o velório, funeral ou qualquer outro rito de maneira convencional.
A decisão de doar o corpo não interfere na possibilidade de também realizar a doação de órgãos. Isso significa que uma pessoa tem a opção de escolher ambos os tipos de doações.
De acordo com o CEDC, o procedimento de doação requer o cumprimento das seguintes diretrizes:
– Ser maior de 18 anos;
– Informar a família;
– Registrar oficialmente em cartório.
Além disso, o CEDC informa que a família também pode realizar a doação de um corpo após o óbito. Nesse cenário, os parentes devem entrar em contato com o conselho ou diretamente com a instituição de ensino que receberá a doação.