Vanessa da Mata rompe o silêncio e faz desabafo surpreendente: “Fui ensinada a dizer que não era negra”

A cantora Vanessa da Mata, 48 anos, participou recentemente do programa Roda Viva, da TV Cultura, e falou sobre sua identidade como mulher parda. Durante a conversa, ela revelou que cresceu sendo ensinada a não se reconhecer como negra, o que foi um grande desafio para ela ao longo de sua vida.

Vanessa explicou que sua construção de identidade sempre foi um conflito interno, pois seu pai é branco, de olhos claros, e a mãe tem ascendência indígena e negra. Ela contou que na época em que cresceu, esse tipo de conversa sobre identidade racial não era comum e, por isso, nunca teve um espaço para refletir sobre isso de forma mais profunda.

“Desde pequena, eu sempre tive esse embate, sabe? Porque meu pai é um homem branquelo, de olho claro, e a família da minha mãe é toda de índio e negro. Era uma época em que ninguém falava sobre isso”, disse ela, lembrando da sua infância. Ela comentou também sobre como foi difícil entender sua própria aparência e sua identidade racial. “Fui ensinada a dizer que não era negra. Mas, olha, minha filha, só de olhar pra mim, pro meu cabelo, meus traços, minha bunda… Eu sou negra, sim! A pele veio do meu pai, mas o formato do rosto e até o corpo são da minha mãe”, desabafou.

Segundo Vanessa, essa luta interna foi bem difícil e demorou para ela conseguir aceitar quem realmente era. “Foi um embate sério. Eu demorei muito tempo pra entender isso. A gente cresce sendo ensinado a não se reconhecer como é, e isso é bem complicado. Hoje em dia, vejo que as novas gerações estão mais firmes, se afirmando mais, e isso me dá um orgulho danado”, comentou a cantora, destacando a importância do empoderamento e da aceitação das novas gerações, que já nascem com mais consciência sobre a questão racial. Mas ela também refletiu sobre como, ainda hoje, muitas pessoas não conseguem se aceitar completamente. “Acho que a gente ainda vê muito isso de pessoas querendo se esconder, não querer se ver como realmente são. Tem um medo de se afirmar e isso, infelizmente, ainda é muito forte.”

Além disso, Vanessa fez questão de falar sobre as dificuldades que o movimento negro enfrenta. Ela reconhece as adversidades que a população negra retinta enfrenta diariamente. “Eu sei que o negro retinto passa por um sofrimento muito grande, uma coisa que é até difícil de acreditar, sabe? A discriminação é muito cruel e pesada. Mas, olha, a gente também passa por muito sofrimento, mesmo com o tom de pele mais claro. Não dá pra negar”, afirmou.

Essas declarações de Vanessa mostram que o processo de autoconhecimento e aceitação não é fácil para qualquer pessoa que tenha uma identidade racial complexa, e ela faz questão de destacar como a luta de todas as pessoas negras deve ser valorizada, independente do tom de pele ou da aparência. Ela ainda relembrou o quanto esse debate sobre identidade e aceitação foi engolido por muito tempo, sem espaço para discussão e sem a chance de muitas pessoas se encontrarem ou se afirmarem como são.

Na visão de Vanessa, os tempos mudaram e a sociedade está mais aberta a essas discussões, mas ainda é necessário mais esforço para que todas as pessoas se sintam representadas e aceitas, principalmente dentro do movimento negro, que precisa ser mais inclusivo. Afinal, a luta pela igualdade racial não tem que ser uma competição de quem sofre mais, mas sim um esforço conjunto para que todos sejam respeitados e tenham o direito de se orgulhar da sua origem e identidade.