Dino diz que ativismo judicial é “tentação” diante de omissão dos Poderes

Deserto Institucional: O Papel do Judiciário no Brasil Atual

O ministro Flávio Dino, que faz parte do Supremo Tribunal Federal (STF), compartilhou em uma palestra recente uma visão que tem chamado a atenção de muitos. Ele descreveu a situação atual do Brasil como um “deserto institucional”. Essa expressão poderosa revela a realidade de um país onde o Judiciário frequentemente é forçado a assumir responsabilidades que, em teoria, deveriam ser dos outros poderes, como o Executivo e o Legislativo. Essa é uma questão complexa e, sem dúvida, relevante nos dias de hoje.

O Ativismo Judicial como Resposta à Omissão

Durante a sua fala, Dino enfatizou que o ativismo judicial se apresenta como uma “tentação satânica” em um cenário onde outras instituições parecem estar falhando em cumprir seus papéis. Ele fez uma analogia interessante ao mencionar a passagem bíblica de Jesus Cristo no deserto, onde, assim como o protagonista da história foi tentado, os juízes também são constantemente chamados a agir em situações onde a inação dos outros poderes impera.

“Nós não somos delegatários diretos da soberania popular. Mas, quando tudo para no sistema de Justiça, somos convocados ao ativismo”, afirmou Dino. Essa afirmação levanta um ponto crucial sobre a função do Judiciário: ele deve ser um guardião da Justiça, mas não pode ser o único a agir em momentos de crise. A ausência de respostas eficazes do Executivo e do Legislativo a conflitos sociais e políticos coloca uma pressão desproporcional sobre o Judiciário.

Conflitos e Protagonismo do Judiciário

O papel central que o STF tem ocupado nas questões nacionais não é uma simples questão de escolha, mas uma consequência direta desse “deserto institucional”. Como Dino explicou, a falta de respostas adequadas de outras instituições acaba projetando sobre os juízes e membros do Ministério Público responsabilidades que não deveriam ser deles. Isso levanta a questão: até que ponto o Judiciário deve se envolver em questões que deveriam ser resolvidas por outras esferas do governo?

Recentemente, o STF se viu no centro de polêmicas relacionadas a pautas que, de acordo com muitos críticos, deveriam ser de responsabilidade do Legislativo. Exemplos disso incluem a regulamentação das redes sociais, questões sobre aborto e a descriminalização da maconha. Essas situações destacam a pressão constante que o Judiciário enfrenta, resultando em um ativismo que, embora muitas vezes necessário, pode ser visto como um sinal de falência dos outros poderes.

A Busca por Soluções Duradouras

Dino também mencionou em sua palestra um projeto de lei focado na proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais, conhecido como PL da Adultização. Esse projeto busca estabelecer ações de controle parental e proteção de dados, além de definir responsabilidades para provedores e aplicativos. O ministro elogiou a iniciativa do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, em pautar esse projeto, afirmando que o Congresso é o local adequado para discutir marcos sociais.

Porém, ele fez um alerta: a judicialização de questões que deveriam ser legisladas pode levar a um estado de incerteza e instabilidade. “O Supremo já se posicionou sobre a proteção de crianças na internet, mas isso não deveria ser o ideal. O que precisamos é que o Congresso atue de forma eficaz e em tempo hábil, caso contrário, o ativismo judicial continuará sendo uma constante em nossa realidade”, concluiu.

A Reflexão Necessária

Essas reflexões de Flávio Dino nos levam a um questionamento mais profundo sobre o funcionamento das instituições brasileiras. A verdade é que o Brasil enfrenta um momento delicado, onde a confiança nas instituições está sendo testada. O Judiciário, apesar de ser um pilar fundamental da democracia, não pode e não deve carregar o peso de resolver todos os problemas que surgem na sociedade. É preciso que o Executivo e o Legislativo estejam à altura de suas responsabilidades.

Portanto, a discussão em torno do ativismo judicial não é apenas sobre o papel do Judiciário, mas também sobre a necessidade urgente de uma reforma institucional que permita uma divisão de responsabilidades mais equilibrada. Sem isso, continuaremos a ver um “deserto institucional”, onde o Judiciário, em sua busca por justiça, pode acabar se tornando o protagonista de um drama que não deveria ser seu.

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