“Faria de novo”, afirma delegado sobre depoimento de adolescente que matou a família

A Polícia Civil do Mato Grosso do Sul ouve, nesta quinta-feira (26), uma adolescente que seria a suposta namorada virtual do garoto de 14 anos acusado de matar os pais e o irmão mais novo, de apenas 3 anos, no distrito de Comendador Venâncio, em Itaperuna (RJ). O caso, que abalou a cidade nos últimos dias, ainda levanta muitas dúvidas — principalmente sobre se o menino teria agido completamente sozinho ou se contou com algum tipo de apoio remoto.

Enquanto isso, os peritos analisam os aparelhos eletrônicos do adolescente, como o celular e o computador pessoal. A ideia é tentar entender melhor o que teria motivado o crime e se alguém, mesmo à distância, pode ter incentivado ou até ajudado na execução do plano. A tecnologia, que conecta jovens ao redor do mundo, agora pode ser uma das peças chave de um crime brutal.

De acordo com o delegado Carlos Augusto Guimarães, da 143ª Delegacia de Polícia de Itaperuna, ainda não existem sinais claros de que o garoto tenha pesquisado formas de matar. Mesmo assim, uma das linhas de investigação considera que a “namorada” — com quem ele mantinha contato desde os 8 anos, por meio de um jogo online — pode ter tido alguma participação, mesmo que indireta.

“Ainda estamos vasculhando todo o conteúdo do celular e do computador. Não dá pra afirmar que ele buscou tutoriais de como cometer os assassinatos. Mas não podemos descartar que tenha recebido algum tipo de influência virtual”, disse Guimarães em entrevista à CNN.

A investigação, que corre em sigilo em alguns trechos, já encontrou conversas antigas entre os dois, mas não divulgou ainda se há mensagens que possam ser consideradas instigadoras.

Relato frio choca até os investigadores

O crime aconteceu na madrugada do último sábado (21), mas só foi descoberto três dias depois. A avó do adolescente, preocupada com o sumiço da família, procurou a polícia. Ao entrarem na residência, os agentes se depararam com a cena do crime: os corpos dos pais e do irmão, todos no mesmo quarto.

O adolescente confessou tudo no depoimento. Segundo ele, tomou um energético forte pra ficar acordado durante a madrugada. Esperou todos dormirem — o pai, a mãe e o irmão, que dividiam o mesmo cômodo por conta do calor e do uso do ar-condicionado — e então pegou a arma do pai, guardada debaixo do colchão.

Primeiro, atirou na cabeça do pai. Depois, mirou na mãe. Por fim, matou o irmão com um disparo no pescoço. Tudo isso sem deixar ninguém acordar.

O que mais surpreendeu os policiais foi a frieza no depoimento. “Conversou de forma calma, sem gaguejar. Quando um investigador perguntou se ele se arrependia, ele respondeu na hora que não. Disse que, se pudesse, faria tudo de novo”, relatou o delegado.

O caso lembra outros episódios recentes envolvendo jovens e crimes violentos, como o atentado em uma escola no Paraná no começo do ano. Especialistas alertam que a exposição prolongada a conteúdos violentos e a ausência de acompanhamento emocional podem criar uma espécie de insensibilidade em adolescentes.

Agora, a polícia tenta entender o que levou esse garoto, aparentemente comum, a cometer um crime tão brutal. O que se passa na cabeça de alguém tão jovem pra tomar uma decisão dessas? O papel da internet, das amizades virtuais e até dos jogos online vai ser analisado a fundo.

O Brasil acompanha, perplexo, mais um caso que mistura juventude, violência e mistérios ainda sem resposta.