Javier Milei vs Sergio Massa no segundo turno da Argentina

Neste domingo, 23 de outubro, os argentinos foram às urnas para escolher o próximo presidente do país. O resultado surpreendeu a muitos, pois o candidato peronista Sergio Massa venceu com uma margem confortável sobre seus adversários, o libertário Javier Milei e a ex-ministra da Segurança Patrícia Bullrich.

 

Massa, que é o atual ministro da Economia do governo de Alberto Fernández, conseguiu se distanciar da imagem desgastada do kirchnerismo e apresentar uma proposta de união nacional, baseada na recuperação econômica, no diálogo político e na defesa da democracia. Com uma campanha focada nos problemas concretos dos argentinos, Massa mobilizou o eleitorado peronista e também atraiu votos de setores moderados e independentes.

 

Milei, por sua vez, ficou em segundo lugar, mas não conseguiu capitalizar todo o descontentamento com o governo e a classe política. 

O candidato libertário, que defende uma agenda de liberalização econômica radical, redução do Estado e confronto com o kirchnerismo, teve uma boa votação nas grandes cidades, mas não penetrou nas províncias mais pobres e tradicionais. Além disso, Milei enfrentou a concorrência de Bullrich, que representava a ala mais conservadora e pró-mercado da direita argentina.

 

Agora, Massa e Milei se enfrentarão em um segundo turno que promete ser polarizado e acirrado. O candidato peronista tentará ampliar sua base de apoio e se consolidar como uma alternativa moderada e viável para tirar o país da crise. O candidato libertário buscará radicalizar seu discurso e mobilizar os setores mais insatisfeitos e descrentes com o sistema político. Enquanto isso, os argentinos seguem sofrendo com a inflação, a pobreza, a pandemia e a falta de perspectivas.

 

“Vamos construir uma Argentina melhor para todos”, disse Massa em seu discurso de vitória. “Não vamos nos render ao populismo nem ao autoritarismo”, disse Milei em seu pronunciamento. A disputa está lançada.

 

O resultado das eleições legislativas na Argentina mostrou uma mudança no cenário político do país. O peronismo, liderado pelo presidente Alberto Fernández e pela vice Cristina Kirchner, conseguiu reverter a derrota nas primárias e vencer em vários distritos importantes, como a província de Buenos Aires e a cidade de Córdoba. Por outro lado, o liberalismo, representado pelo economista Javier Milei, teve um desempenho histórico e se consolidou como a terceira força política nacional.

 

Milei, que defende o fim do Estado e a liberdade econômica total, celebrou o resultado como uma vitória da liberdade sobre o kirchnerismo. “Não percamos de vista esse evento histórico”, afirmou ele. “O fato de termos feito a melhor eleição da história do liberalismo na Argentina nos enche de orgulho. Saímos do nada para ter quase 40 deputados e 8 senadores. É impressionante o que construímos”.

 

Milei também enviou uma mensagem à direita que não votou nele. “Nunca houve uma eleição mais clara. Se trabalharmos juntos, poderemos acabar com o modelo de castas (elites) políticas. Esta eleição não é sobre mim. Nós, argentinos, temos de escolher se queremos o kirchnerismo ou a liberdade. Eles vão mentir, vão sujar, dizer que estamos aqui para tirar direitos, não se enganem, estamos aqui para acabar com os privilégios para que eles não possam mais roubar”, afirmou o candidato de Libertad Avanza.

 

No entanto, o grande vencedor da noite foi Sergio Massa, o presidente da Câmara dos Deputados e candidato à reeleição pelo peronismo. Massa conseguiu recuperar os votos perdidos nas primárias e derrotar Diego Santilli, o candidato do ex-presidente Mauricio Macri, na província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral do país.

 

Massa manterá o discurso “produtivista” e seu status de ministro em exercício e atual candidato fortalecerá sua posição com um “círculo vermelho” que provavelmente estará mais inclinado a lhe dar crédito.

 

O candidato peronista soube mobilizar sua base de aliados e comunicar uma mensagem de união que reverberou com mais força no país que os chamados de mudança radical.

 

Segundo Lourdes Puentes, cientista política e Diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina (UCA), a disputa eleitoral de domingo surpreendeu não só pela recuperação de espaço do peronismo, mas também pela capacidade de Massa de fazer ecoar uma mensagem de fortaleza institucional que havia ficado apagada nas eleições primárias, PASO. A disputa, que havia deixado Massa em segundo lugar, serviu para acordar o peronismo, forçando a coalizão a mudar de estratégia.

 

“De forma geral, eu sempre aguardo alguma surpresa dos eleitores, que diferentemente do que acham outros, pensam bastante, não agem pelo impulso, e que nas PASO deram um forte alerta à classe política que condicionou o discurso posterior de todos [os candidatos]”, disse ao Estadão Lourdes Puentes.