No mundo do futebol, onde a paixão e a emoção se misturam, existe uma face obscura que muitas vezes é ignorada ou negligenciada. Moisés Brisolla, um jovem jogador de futebol brasileiro de apenas 20 anos, recentemente voltou ao Brasil após uma experiência traumatizante nos Emirados Árabes Unidos. Ele passou cerca de oito meses trabalhando em condições análogas à escravidão em Dubai, um caso que revela as profundas injustiças presentes na indústria esportiva.
Moisés partiu para Dubai em julho de 2022 com a expectativa de jogar pelo Al-Rams Club. Infelizmente, sua passagem pelo clube foi breve, sendo dispensado após um mês devido a frequentes cãibras. Nesse momento, seu empresário sugeriu que ele ficasse na residência de um empresário brasileiro e trabalhasse na fábrica de cosméticos desse homem. A partir daí, a vida de Moisés tomou um rumo sombrio.
De acordo com um documento enviado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (CCDH-RS) ao Itamaraty, Moisés foi submetido a condições análogas à escravidão. Esse relatório, enviado em março deste ano, descrevia uma realidade perturbadora.
Moisés trabalhava mais de 15 horas por dia, sem receber salário ou possuir um contrato de trabalho formal. Além disso, ele teve seu celular confiscado, impedindo-o de se comunicar livremente com o mundo exterior. Sua única esperança residia em contatos esporádicos com um membro da família, a quem pediu ajuda e denunciou a situação à CCDH.
Felizmente, o resgate de Moisés ocorreu graças à intervenção da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul em conjunto com o Itamaraty. O jogador retornou ao Brasil e foi prontamente ouvido pelas autoridades responsáveis pelo caso. A CCDH solicitou que o nome da empresa denunciada não fosse divulgado para garantir o andamento das investigações.
O caso de Moisés Brisolla coloca em evidência uma triste realidade: a estrutura racista que permeia o mundo do futebol. Laura Sito, presidente da Comissão de Direitos Humanos, destaca que esse incidente é apenas mais um exemplo de como o racismo continua presente no esporte e em outras áreas da sociedade. Ela afirma que é hora de enfrentar esse problema de frente e garantir que casos como esse não se repitam.
A história de Moisés Brisolla expõe uma realidade sombria e chocante que ainda persiste no mundo do futebol. O trabalho escravo, mesmo em pleno século XXI, continua a afligir pessoas vulneráveis em várias partes do globo. É essencial que a sociedade, as autoridades e as organizações esportivas trabalhem juntas para erradicar essa prática desumana e assegurar que todos os jogadores sejam tratados com dignidade e respeito. O caso de Moisés Brisolla deve servir como um chamado para a ação e um lembrete de que ainda há muito a ser feito para garantir a justiça e a igualdade no mundo do futebol e além dele.
‘’É mais um caso que mostra a estrutura racista no futebol e que, a cada dia, vem nos mostrando que isso já não cabe mais no Brasil, nem no restante do mundo. […] Estamos virando apenas mais uma página de um imenso capítulo sobre o tráfico para trabalho escravo que nunca deixou de existir” Laura Sito, presidenta da Comissão de Direitos Humanos..