Veja quanto o mar pode invadir o RJ até 2100 e por que praias como Ipanema e Copacabana estão em risco, segundo estudo da UFRJ

O Futuro das Praias do Rio: O Impacto da Elevação do Nível do Mar

Estudos recentes realizados por pesquisadores da Coppe, o renomado instituto de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelam preocupações alarmantes sobre o futuro das praias cariocas. As simulações indicam que, até o final do século XXI, o mar pode avançar mais de 100 metros sobre o Rio de Janeiro, transformando as inundações sazonais em fenômenos permanentes. Essa pesquisa foi fundamentada na tese de doutorado da pesquisadora Raquel Santos, sob a supervisão do oceanógrafo Luiz Paulo de Freitas Assad, professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe e do Departamento de Meteorologia da UFRJ.

Projeções Alarmantes

O estudo, que mediu os impactos da elevação do nível do mar da orla do Leblon até a Baía de Guanabara, foi antecipado pelo jornal O Globo e também recebeu cobertura do g1. Os modelos indicam que o nível médio do mar pode subir 0,78 metro até 2100, com uma taxa de elevação de 7,5 mm por ano na costa do Rio, um valor que supera a média global. Essa projeção não considera apenas a elevação do nível médio, mas também a intensificação de eventos extremos, como as ressacas, que aceleram a erosão e diminuem a faixa de areia disponível.

Impactos nas Praias Cariocas

As consequências desse avanço são severas. As praias de Copacabana e Leme, por exemplo, podem perder uma quantidade significativa de areia. Outras praias icônicas da Zona Sul, como Ipanema, Leblon e Botafogo, também estão previstas para encolher até 80 metros nas próximas décadas. Em eventos de maré alta e ressacas, o mar pode avançar até 60 metros adicionais. Além disso, as praias do Rio estão cercadas por construções e infraestrutura urbana, o que impede um recuo natural e agrava o risco de perda permanente da faixa de areia.

Perda de Ecossistemas e Aumento de Alagamentos

O estudo também projeta um aumento do espelho d’água nas lagoas costeiras, como a famosa Lagoa Rodrigo de Freitas, e um risco elevado de desaparecimento de áreas de manguezal, como a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. Mais preocupante ainda é a possibilidade de que áreas hoje sujeitas a inundações sazonais se tornem alagadas permanentemente, alterando drasticamente o uso do solo e impactando a infraestrutura urbana. Segundo Luiz Assad, as consequências do aquecimento dos oceanos e da expansão térmica são diretas e têm o potencial de alterar a força das ondas e a intensidade das marés, acelerando ainda mais a erosão costeira.

Vulnerabilidade Costeira

De acordo com o Índice de Vulnerabilidade Costeira (IVC) calculado no estudo, mais de 75% da costa brasileira, que se estende da Bahia até o Rio Grande do Sul, apresenta alta vulnerabilidade à elevação do mar. A costa do Rio, em particular, está entre os trechos mais críticos, devido à alta densidade urbana, ocupação costeira e baixa capacidade de adaptação às mudanças climáticas.

Soluções Potenciais

Embora os desafios sejam enormes, existem caminhos que podem ser percorridos para mitigar os impactos do avanço do mar. Segundo Luis Assad, é crucial que haja uma coordenação global e local em ações de mitigação. Em um plano global, a redução das emissões de gases de efeito estufa é fundamental, conforme preveem os acordos internacionais. No âmbito local, ele sugere soluções de engenharia costeira, como o engordamento artificial da faixa de areia, instalação de recifes artificiais e construção de moles – estruturas de contenção feitas com pedras ou concreto, posicionadas próximas à costa, bocas de rios ou portos.

Importância da Prevenção e Conscientização

Antes de qualquer ação, é vital entender como o oceano se comporta. Pesquisas como essa são essenciais para prever o impacto de intervenções. Um exemplo que ilustra a complexidade da situação é o caso de Balneário Camboriú, onde uma ampliação artificial da faixa de areia não impediu que o mar continuasse avançando. As mudanças climáticas não afetam apenas o nível médio do mar; elas também aumentam a frequência e a intensidade de eventos extremos, como ressacas e tempestades. Ignorar esses fatores pode levar a soluções ineficazes.

A Segurança dos Frequentadores de Praia

Os banhistas também precisam estar atentos às mudanças no comportamento das correntes, que já representam risco em locais com bandeiras vermelhas. A tendência é que esses eventos se tornem mais frequentes e intensos. Portanto, a consciência sobre a segurança no mar é essencial, pois as correntes perigosas podem se tornar um problema ainda maior no futuro.

Como Foi Feito o Estudo

Esse estudo é pioneiro no Brasil ao empregar modelagem hidrodinâmica regionalizada com esse nível de detalhamento para prever os efeitos das mudanças climáticas no litoral. A modelagem hidrodinâmica é uma técnica que utiliza modelos computacionais para simular o comportamento da água em diferentes ambientes, como rios e oceanos. Para essa pesquisa, os cientistas da UFRJ utilizaram uma ferramenta chamada ROMS (Sistema Regional de Modelagem Oceânica), que simula o oceano com dados reais e fórmulas matemáticas. O cenário climático estudado, chamado RCP4.5, representa uma situação intermediária de aquecimento global e é amplamente utilizado por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A ideia é que, por meio da modelagem computacional, possamos entender como um fenômeno global, como as mudanças climáticas, pode impactar localmente uma região específica, como o Rio. A conscientização e o investimento em sistemas de previsão e alerta são fundamentais para proteger a população durante eventos extremos. Afinal, o futuro das praias do Rio de Janeiro depende de nossa capacidade de agir agora.